Com as mais de 230 atrações que se desenrolaram entre sábado (24) e domingo (25), o público da Virada Cultural de Belo Horizonte até se divertiu, mas também reclamou. E muito. As queixas atravessaram, por exemplo, questões estruturais e um esvaziamento do evento, que acontece desde 2013 e já chegou a ter, em edições anteriores, mais que o dobro de palcos e de atrações.

Neste ano, sem a Praça da Estação, que costuma receber os principais shows da Virada, mas, está fechada para reforma, outros logadouros foram convocados, caso das praças Rui Barbosa e Raul Soares. Além disso, o espetáculo de encerramento acabou sendo levado para o Parque Municipal, que trabalha com limite de público. As soluções dividiram opiniões. 

Roberta Solz, 26, por exemplo, lamentou que a organização não tenha informado sobre a lotação máxima no Parque Municipal. “Eu vim hoje (no domingo, 25) cedo, entrei normalmente. Fui em casa e voltei para ver o show que era o único que eu queria mesmo assistir. Mas, cheguei e tinha esse bloqueio”, comentou, referindo-se a apresentação de Lenine e Marcos Suzano, que encerraram o evento com um show que, de tão cheio, acabou causando mal-estar quando uma parte do público foi barrada nos portões do equipamento.

Com lotação máxima, parte do público é barrada e perde show de encerramento da Virada Cultural | Crédito: Fred Magno/O Tempo
Com lotação máxima, parte do público é barrada e perde show de encerramento da Virada Cultural | Crédito: Fred Magno/O Tempo

Queixa semelhante fez Laura Honório, 29. “Se existia esse porém, então o show de encerramento não devia ter sido marcado para esse lugar. Lembro que, no ano ado, fui na Gaby Amarantos, na Praça da Estação, e que não tive esse problema”, recorda.

Alan Rodrigues, 30, é mais uma das vozes críticas às escolhas. Sobre os palcos nas praças Raul Soares e Rui Barbosa, ele pontuou que os lugares têm muitos jardins, que precisam ser protegidos. “Mas isso gerou um afunilamento. A gente ficou espremido em corredores, em baixo de sol, para ver os shows”, lamentou, acrescentando que, na sua opinião, faltaram elementos que conferissem uma liga ao percurso entre a Raul Soares e os outros espaços. “É um lugar central, mas que está distante dos outros palcos”, reflete.

Por sua vez, Fernando Soares, 36, até aprovou a ideia de estender o circuito do evento até a Raul Soares com um espaço dedicado ao samba. Mas também se queixou do que considerou erros de disposição dos equipamentos e estruturas. “Realmente, os palcos ficaram mal-posicionados. Acho que dá para melhorar”, avaliou. No lugar em questão, quem tentou se refugiar do sol forte lidou com o ônus de ver os shows de longe: a Raul Soares, afinal, só possui duas árvores que fazem sombra. Naturalmente, o espaço foi disputado. Além disso, cadeiras de praia com sombreiros chegaram a ser espalhados em uma via lateral, contudo, dispostas de forma que não era possível ter visão do palco.

Público precisou se aglomerar em corredores, devido à pouca amplitude à frente do Palco Samba | Crédito: Fred Magno/O Tempo
Público precisou se aglomerar em corredores, devido à pouca amplitude à frente do Palco Samba | Crédito: Fred Magno/O Tempo

Para Franciele Aparecida, 29, e Camila Braga, 28, o problema foi o que consideraram um esvaziamento da programação. “A gente já teve Virada com muitos artistas nacionais, como Criolo, Sandra de Sá, Elza Soares, Chico César e o próprio Lenine. E em um mesmo ano!”, lembrou a primeira, fazendo referência a atrações da edição de 2016, que recebeu também uma peça do Teatro Oficina, lotando, à meia-noite, o Sesc Palladium. “Já neste ano, não tivemos tantas opções com essa expressão”, criticou.

“Faltou divulgação. Conheço gente na região (da Raul Soares) que só ontem soube que teria palco aqui”, inteirou Camila, complementando que, entre um show e outro, sentiu falta do uso de som mecânico, para manter o clima festivo, sem deixar que lacunas sonoras afetassem o ânimo dos frequentadores. “E acho que o número de atividades está cada vez mais reduzido”, complementou.

De fato, na citada Virada Cultural de BH de 2016, foram mais de 500 atrações em 24 horas. Em 2019, o evento somou mais de 400 atrações. O volume, contudo, caiu para 250 em 2020. Já no ano ado, foram 240 e, neste, 230. A tendência decrescente, evidentemente, corrobora para a avaliação da frequentadora. Ela, no entanto, elogiou que, neste ano, o projeto abrisse um espaço especial para o samba. “É um gênero que acaba correndo por fora dos festivais, mas que, em BH, está cada vez mais potente”, refletiu.

Aos 7 anos, Levi participou do Skate Fighter, na Virada Cultural | Crédito: Fred Magno/O Tempo
Aos 7 anos, Levi participou do Skate Fighter, na Virada Cultural | Crédito: Fred Magno/O Tempo

Outra estreia elogiada foi o “duelo de skate”. “Sem dúvida, é uma iniciativa excelente”, comenta Elias Martins, 41. Ele conta ter voltado a praticar o esporte em 2013. “Nunca mais parei. Então, aproveitei para iniciar meus filhos também”, resume, lamentando que, por estar machucado, não está aproveitando, como queria, a chegada do Skate Fighter à Virada. Mas, em compensação, seu filho, Levi, de 7 anos, aproveitou por ele.