“Não havia palco melhor para celebrar meus 43 anos de carreira”, garante o dançarino, coreógrafo e pesquisador Evandro os, feliz da vida por realizar, na Virada Cultural de Belo Horizonte, o seu “aulão-espetáculo: Dança Afro na Rua”. A apresentação, que pôs o público para se mexer, vem se desenrolando, na Praça dos Patins, no Parque Municipal Américo Renné Giannet, desde 14h30 deste domingo (25), segundo e último dia do evento, que tradicionalmente propõe 24 horas de imersão cultural na região central da cidade.

Acompanhado de cinco percussionistas, entre eles o multiartista Do Xango, Evandro os realiza no lugar uma atração para todos os corpos e idades, como ele mesmo diz.

“A Dança Afro é uma manifestação genuína da herança africana na sociedade, que vem ao encontro dessa herança que trazemos em nossos corpos. Ela possui uma codificação diferente do balé clássico. Não é sobre a superação de limites, não é sobre a técnica pela técnica. A dança afro é o oposto disso. É sobre a expressão corporal mais genuína. E, por isso, todas as pessoas, indiferente de idade ou experiência, podem participar. Sua base é a coordenação, expressão e ritmo, o que todo brasileiro tem, não sobre virtuosismo”, define o estudioso.

Para a aposentada Fátima Marques, 67, acompanhar e participar da performance tem sido um deleite. “Estou achando fantástico. Acho que é um momento de relaxamento muito bom para quem está curtindo há muito. Eu mesma já estava meio cansada, e agora, aqui, estou sentindo que estou recarregando as energias”, comenta, exaltando que a atividade congregue os mais variados públicos. “Isso é bonito demais! É bom ver essa união, ver que cabe todo mundo, independente de idade, raça, condição”, aponta.

Karen Komorebi, 23, e sua bisavó, dona Almerita, de 87 anos, durante aulão-espetáculo comandado por Evandro os | Crédito: Fred Magno/O Tempo

Um momento especialmente tocante e simbólico da dinâmica foi a chegada de dona Almerita, 87. Em uma cadeira de rodas, ela não apenas contemplou o espetáculo como também dançou, com suaves movimentos de ombros, mãos e braços, sempre estimulada por sua bisneta, a estudante de dança e circo Karen Komorebi, 23.

Da Virada para Paris

Depois da agem celebrativa pela Virada Cultural, Evandro os começa a se preparar para seguir rumo à Universidade de Paris 8 Vincennes-Saint-Denis, na capital sa. “Irei na primeira semana de outubro e fico por lá até 31 de dezembro”, detalha, mencionando que optou por ficar um trimestre, embora o convite, inicialmente, fosse para uma estada maior, de seis meses — “eu já tinha agenda no Brasil e não queria adiar”, explicou em entrevista a O TEMPO

Durante o período, no contexto de um “doutorado-sanduíche”, como é chamado o programa que permite que se realize parte do processo de qualificação em uma instituição de ensino superior no estrangeiro, os vai pesquisar como a dança afro chega à França e, simultaneamente, levar sua pesquisa sobre a dança afro-brasileira para a universidade do país.

Público da Virada Cultural dança sob condução do coreógrafo Evandro os | Crédito: Fred Magno/O Tempo

“Serão três meses palestrando, estudando, levando para Paris não só o meu projeto de pesquisa, como também o livro infantil ‘O Menino Coração de Tambor’, de Nilma Lino Gomes, que conta minha história e, desde o ano retrasado, integra o kit de livros para escolas municipais de Belo Horizonte, e o livro ‘Dança Afro-Brasileira — Identidade e Ressignificação Negra’, lançado no ano ado como resultado da minha dissertação de mestrado na Unesp (Universidade Estadual Paulista)”, detalha.