BRASÍLIA – O almirante da reserva Almir Garnier se emocionou nesta terça-feira (10) ao recordar o motivo que o levou a não participar da cerimônia de agem de comando da Marinha, ramo das Forças Armadas responsável pela defesa marítima do país. 

A ausência do comandante na solenidade, inédita na história de agens de cargos na Marinha, fundada em 1822 no Brasil, foi associada à sua contrariedade com o resultado das eleições presidenciais de 2022 que deu vitória ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a derrota de Jair Bolsonaro (PL), governo do qual fez parte.

De acordo com ele, em consenso com seus colegas da Aeronáutica e do Exército, as três agens de cargo ocorreriam ainda em dezembro, diante tensões causadas pela polarização política no período eleitoral. 

Na Aeronáutica e no Exército, as datas programadas por eles foram cumpridas, mas a pedido do seu sucessor, almirante Marcos Sampaio Olsen, a agem de comando na Marinha seria feita em janeiro, já com o novo ministro da Defesa empossado. Em razão de outros compromissos assumidos, no entanto, Garnier disse que não poderia participar.

“Não foi com alegria que disse isso a ele. Nós temos tradições. O comandante da Marinha quando se despede, tem direito a salva de canhões, desembarque de lanchas e eu não tive nada disso. Eu havia programado toda cerimônia no arsenal de Marinha do Rio de Janeiro, porque eu comecei a minha carreira na Marinha aos 10 anos de idade, na Escola de Aprendizes e Operários da Madrinha e eu queria, depois de 52 anos da Marinha, eu queria me despedir lá”, disse, com a voz embargada.

Garnier teria colocado tropa da Marinha à disposição de Bolsonaro

O almirante Almir Garnier foi o terceiro dos oito réus que serão interrogados pelo ministro Alexandre de Moraes no inquérito que apura uma tentativa de golpe de Estado para perpetuar Jair Bolsonaro no poder após as eleições de outubro de 2022.

Ele comandou a Marinha entre abril de 2021 e dezembro de 2022, durante o governo de Jair Bolsonaro, após ter atuado como secretário-geral do Ministério da Defesa. 

Com carreira iniciada em 1978 na Escola Naval, Garnier foi citado pela Procuradoria-Geral da República como participante de uma reunião sobre a chamada “minuta do golpe”, com seu nome registrado na lista de entrada e saída do Palácio da Alvorada, indicando envolvimento direto nas articulações investigadas.

As investigações da Polícia Federal, com base em mensagens do celular de Mauro Cid e depoimentos como o do ex-comandante da Aeronáutica Carlos Baptista Junior, indicam que Garnier foi o único comandante das Forças Armadas a colocar sua tropa à disposição de Bolsonaro para uma possível intervenção militar.