O prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman (PSD), mal oficializou a pré-candidatura à reeleição, no início desta semana, e já enfrenta um grande desafio na trajetória até a votação em outubro. Na quarta-feira (28), 55 árvores foram cortadas na região da Pampulha em avenidas onde podem acontecer as provas da Stock Car em agosto deste ano.

Além de mobilizar diversas organizações de defesa do meio ambiente para que a supressão da vegetação fosse interrompida, a situação provocou reações de eventuais adversários na disputa pelo Executivo municipal, como a do senador Carlos Viana (Podemos). Ele avaliou que a decisão deve prejudicar a realização do evento na capital mineira, já que “sem ouvir as pessoas, a prefeitura subtraiu árvores, enquanto poderia ter pensado na retirada e replantio após o evento”. O parlamentar ainda mencionou que “a PBH parece um quadro dos trapalhões”.

A deputada federal Duda Salabert (PDT) afirmou que não é contra a realização da Stock Car, mas se opõe ao corte de árvores e aos impactos que o empreendimento pode ocasionar para a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A parlamentar ainda destacou que um estudo recente coloca Belo Horizonte como a capital que teve o pior resultado na combinação de temperaturas extremas e secas.

Para ela, “a compensação ambiental proposta não resolve, justamente porque não há como plantar árvores com o mesmo porte das que foram cortadas, isso sem falar na decisão de colocar R$ 20,3 milhões do dinheiro público para ajudar em um evento privado como se não houvesse outras prioridades”.

Já a deputada estadual Ana Paula Siqueira (Rede) afirmou que os termos do acordo são “preocupantes” e que a postura da PBH em relação às árvores é “contraditória”. “Quando é necessário suprimi-las para garantir a segurança da população, ela não o faz. No entanto, quando se trata de atender a interesses econômicos, faz às pressas?”, questionou Ana Paula.

Nas redes sociais, o deputado federal Rogério Correia (PT) se manifestou pedindo que as árvores sejam “deixadas em paz”. Na publicação, ele destacou que “contra a posição emitida pela própria Secretaria de Meio Ambiente, a prefeitura e o Conselho Municipal de Meio Ambiente decidiram cortar árvores no entorno do Mineirão para receber a corrida”.

Também nas redes sociais, a deputada estadual Bella Gonçalves (PSOL) defendeu a promoção de turismo e eventos na cidade, desde que os processos aconteçam com “responsabilidade, diálogo e respeito”. Ela ainda acrescentou que o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) “já está comprometido em parar o corte” das árvores.

Todos os pré-candidatos, inclusive a secretária de Estado de Planejamento e Gestão, Luisa Barreto (Novo), o deputado estadual Bruno Engler (PL) e o ex-vice-prefeito Paulo Lamac (Rede) – que não fizeram nenhuma publicação sobre o assunto –, foram procurados para comentar o assunto, mas não responderam aos contatos da reportagem.

UFMG pede novo local para a corrida

Além dos políticos, a UFMG também se posicionou, pedindo que a Stock Car seja realocada para outra parte da cidade. Em nota à comunidade, a reitora Sandra Regina Goulart afirmou que não houve diálogo entre os organizadores e o poder público com a istração da Universidade.

"A instituição tem ciência de que os impactos do evento serão enormes, não apenas nas unidades mais sensíveis, como a área hospitalar, mas em todas as atividades de ensino, pesquisa e extensão, além de aspectos relacionados ao o, impacto ambiental, bem-estar dos animais e deslocamento das pessoas”, afirma a professora.

Stock Car vai influenciar debate eleitoral

Segundo especialistas, a realização da Stock Car certamente vai impactar os debates relativos às eleições deste ano em Belo Horizonte. Para o cientista político e professor do Ibmec-BH, Adriano Cerqueira, ainda é cedo para determinar como a imagem do prefeito Fuad Noman será influenciada, mas não há dúvidas que o assunto vai repercutir nos meses de campanha.

Ele explica que, por um lado, o peso positivo pode estar associado ao fato de “Belo Horizonte ter um histórico de gostar de eventos esportivos, e uma parte expressiva do eleitorado ter carro e curtir automobilismo”. Sob outro ponto de vista, Cerqueira argumenta que “um evento dessa magnitude envolve a questão ambiental e animal, e uma parcela da população reage emocionalmente e negativamente a esse tipo de problema, mas é difícil saber como o eleitorado vai se dividir”.

A PBH afirmou que não vai se manifestar sobre o impacto da Stock Car no cenário eleitoral.

Justiça pode parar ação da PBH

Além dos aspectos políticos, especialistas destacam que a ação da prefeitura pode ter ferido a legislação ambiental. O advogado e professor de direito ambiental da UFMG, Daniel Gaio, explica que mesmo com a autorização do Conselho Municipal de Meio Ambiente (Comam), o corte de árvores protegidas, como o ipê amarelo, dependeria de um licenciamento ambiental específico.

“A supressão deve ocorrer somente em casos excepcionais, ou seja, se houver interesse social ou público. A lei estadual estabelece que o procedimento depende da aprovação do Conselho Municipal de Meio Ambiente, mas a autorização precisa partir de uma análise de todas as consequências produzidas pelo ato”, afirma Gaio.

Do ponto de vista urbanístico, os impactos do empreendimento também são criticados. Edwiges Leal, arquiteta e integrante do corpo técnico do Conselho Municipal de Políticas Urbanas (Compur), destacou que a proposta apresentada até o momento alteraria o desenho urbano no entorno do Mineirão, causando problemas para a comunidade.

“O som de carros competindo em alta velocidade é ensurdecedor, ultraa os 110 decibéis, o que equivale a 10 ou 15 trios elétricos juntos, se compararmos com o Carnaval. Além disso, todo o desenho urbano seria modificado, com a retiradas calçadas, canteiros centrais, travessias elevadas e toda a sinalização, sem contar os transtornos com os desvios das linhas de ônibus”, destacou a arquiteta.