Ênio César de Moraes (*) e Velane Oliveira Fernandes (**)

Aceita um cafezinho? Certamente! Com açúcar ou sem açúcar? (Momento de tensão!) Como é complicado retirar esse “doce veneno” da nossa vida! Pelo menos da minha, um mineiro que adora um docinho, é bem difícil! Todos sabemos bem os malefícios do açúcar para nosso organismo. Então, por que é tão desafiador cortá-lo da nossa alimentação? A fim de robustecer essa reflexão, pedi ajuda a uma professora de biologia, com especialização em neurociências.

Eis o que ela registrou: o açúcar, em excesso, ativa o sistema de recompensa do cérebro, liberando dopamina, neurotransmissor associado ao prazer. Isso gera picos de glicose e insulina, criando um ciclo de compulsão e dependência. Pois bem! Antes mesmo de consultar a nobre colega em busca de embasamento teórico para minha metáfora, muito embora a licença poética o dispense, ousei estabelecê-la: o smartphone é o nosso açúcar eletrônico! Justifico: é inquestionável o prazer que nos proporciona, bem como o preço que nos cobra pelos excessos.

Outro ponto de contato, que vivenciei ao ter de diminuir drasticamente o açúcar e o sal em determinado momento da vida, é a sensação de “desintoxicação” e liberdade, não antes do sentimento ruim experimentado inicialmente. Obviamente, não ignoro a utilidade, a versatilidade e a agilidade propiciadas pelos poderosos computadores de mão nem os demonizo. Enfatizo, porém, a dependência e o estado de emergência em que nos põem. 

E cabe lembrar que esse é o ponto de vista – ou a vista do ponto! – de um adulto que foi formado em um tempo distante das denominadas “gerações Z e alpha”.

Nesse contexto, a despeito da polêmica e do incômodo por ela causado, a Lei 15.100/2025 é bem-vinda, visto que impõe a diminuição do tempo de tela por parte de crianças e jovens e, especialmente, provoca discussões acerca do impacto desses fascinantes telefones móveis em nossa vida. Curioso que sou, não resisti e acabei perguntando à amiga professora se minha ousadia poética tinha algum fundamento biológico, ao que ela respondeu: o uso descontrolado do celular mantém o cérebro em busca constante de dopamina, gerando uma falsa sensação de regulação emocional. Como a dopamina liberada não se sustenta por muito tempo, surge a necessidade de prolongar o uso para manter a sensação de prazer.

Assim como no consumo exagerado de açúcar, o cérebro se torna dependente dos estímulos digitais, reforçados por interações superficiais, como curtidas e notificações. O medo de não ter ao alcance um aparelho eletrônico tem nome: “nomofobia”. Fiquei feliz por ver que meu raciocínio fazia sentido. E também porque meu primeiro movimento para encontrar as respostas foi em direção à pessoa que poderia dá-las, e não à inteligência artificial. É bem verdade que tive de usar o celular para contatá-la! Uma licença tecnológica, digamos!

(*) Ênio César de Moraes é coordenador do ensino médio e (**) Velane Oliveira Fernandes é professora de biologia no Colégio Presbiteriano Mackenzie Brasília