“Chama-se técnica do alinhamento coital. Há vários livros sobre o assunto. Quando feita corretamente, fornece conexão máxima, tanto física quanto emocional”, explica a personagem Billie Connelly em um diário pessoal em que relembra sua relação com o ex-namorado Brad. Na cena, exibida no quinto episódio da primeira temporada da série “Sex/Life”, da Netflix, a voz da protagonista da trama ressoa enquanto imagens de um homem e de uma mulher transando são exibidas. Ao menor movimento dele, que reposiciona o próprio corpo sobre a parceira, ela parece tomada de prazer. 

Ainda que não tenha sido recebida com entusiasmo pela crítica, é notável que a produção norte-americana aguçou a curiosidade dos espectadores. Tanto que, desde o lançamento, em junho, houve um aumento vertiginoso nas buscas por “alinhamento coital” na internetcomo mostra o Google Trends, ferramenta que mensura a frequência com que um termo é pesquisado. Em uma escala de 0 a 100, o índice de interesse pelo tema chegou a 82 no dia 3 de julho – mantendo-se, atualmente, com tendência de alta. Esta é a maior taxa de procura já registrada pela plataforma para esse assunto. 

Mas, afinal, que posição é essa que, na trama, se mostrou tão prazerosa e inesquecível? 

Descrita pela primeira vez em 1988 pelo pesquisador Edward Eichel, a técnica do alinhamento coital (“The CAT”, na abreviação em inglês) é relativamente simples. Basta que, partindo da posição “missionário”, ou “papai e mamãe”, o homem deslize-se alguns centímetros para cima, de modo que a base do pênis friccione contra o clitóris da parceira. Neste caso, em vez do movimento vertical, de entra e sai, opta-se por uma dinâmica horizontal, para cima e para baixo. 

Um relatório do “Journal of Sex and Marital Therapy” reafirma a tese de Eichel de que a técnica pode ajudar as mulheres a ter orgasmos durante a relação sexual.

No estudo, pesquisadores trabalharam com 36 mulheres que relataram não ter orgasmos habituais na posição do missionário. Junto de seus parceiros, elas participaram de workshops de enriquecimento erótico por oito semanas. Entre as voluntárias, 17 foram encorajadas a se masturbar para que melhor conhecessem o próprio corpo. Já as outras 19 aprenderam sobre o alinhamento coital. 

A partir de diários mantidos durante um período de 21 dias após o treinamento, os estudiosos constataram que o grupo estimulado a se masturbar relatou um aumento de 27% no orgasmo durante a relação sexual na posição de missionário. Já o grupo que implementou o “The CAT” à rotina sexual, relatou mais que o dobro do aumento, 56%. 
Apesar de os resultados parecerem animadores, pesquisadores não são unânimes sobre a eficácia da posição. 

Em outro relatório, também publicado no “Journal of Sex and Marital Therapy”, 26 pesquisadores da sexualidade humana e seus parceiros experimentaram a técnica por duas semanas. Dessa vez, apenas uma das participantes relatou melhorias significativas na qualidade das relações. Mesmo assim, foi um consenso do grupo que, no contexto da terapia sexual, o alinhamento coital “pode ter mérito em determinadas situações clínicas e merece ser mais bem avaliada”. 

“Desconfie das ‘receitas de bolo’” 

Para o sexólogo somático Tiago Brumatti, a técnica do alinhamento coital pode, sim, ser benéfica. “A posição possibilita uma mecânica de estímulo diferente daquela habitual, ampliando os horizontes de criatividade erótica e o repertório sexual do casal, o que é muito positivo”, observa. Mas ele pondera que seguir uma “receita de bolo” que promete soluções mágicas pode ser frustrante.  

“Uma mulher que tem dificuldades de ter orgasmos na posição papai e mamãe, que tente essa técnica sem ter sucesso, pode se sentir angustiada, assim como o parceiro dela”, pontua, ressaltando que as relações íntimas e o prazer são multifatoriais. “Para o sexo ser satisfatório, as pessoas precisam se sentir seguras e acolhidas. Só assim elas vão conseguir relaxar e alcançar o orgasmo. Nesse sentido, a conexão do casal é mais importante que outras variáveis”, salienta. 

Brumatti adverte que a promessa de prazer facilitado pode induzir os parceiros a uma performance sexual robotizada. “De repente, pode-se estar mais concentrado no papel que se está desempenhando e na execução dos movimentos do que nas sensações presentes naquele momento, o que também vai prejudicar a qualidade da transa”, situa. 

Por fim, o sexólogo lembra que toda a mecânica do “The CAT” é baseada na estimulação clitoriana. “Mas existem outras formas de realizar esse estímulo. Inclusive, com outras partes do corpo, como a boca e os dedos. Além disso, é importante lembrar que o clítoris é um órgão grande, que não se resume à glândula que geralmente fica mais exposta. E essa parte do corpo pode ser estimulada de outras maneiras, inclusive de forma indireta”, destaca.