Nascido em Amdo, no nordeste do Tibete, o professor Nida Chenagtsang estudou medicina tradicional tibetana, e mais tarde ingressou na Universidade Médica Tibetana de Lhasa. Ele recebeu ensinamentos budistas de professores de todas as linhagens e ministra cursos em mais de 40 países. Esta será sua primeira vez no Brasil para uma série de ensinamentos.
O que é “yuthok nyingthig”? A “essência do coração de yuthok” é um conjunto único e abrangente de práticas do budismo vajrayana transmitidas por Yuthok Yönten Gönpo, o jovem, grande médico tibetano do século XII. É um sistema completo proveniente da ioga tantra supremo, começando com o Ngöndro (as preliminares), práticas do estágio de criação e completude, como guru iogas, seis iogas de Naropa, Mahamudra e Dzogchen. Entre as características especiais do yuthok nyingthig está o fato de ser extremamente fácil e condensado em retiros de sete dias. Contém em um único texto todos os ensinamentos completos do vajrayana, além de práticas de aprimoramento das capacidades médicas. Enquadra-se na tradição “ri-me”, ou “não sectária”, do budismo tibetano. Originalmente, o yuthok nyingthig era uma prática espiritual secreta da família de Yuthok que só era transmitida dentro da linhagem familiar direta.
Fale um pouco sobre Yuthok Yönten Gönpo, fundador da medicina tibetana. Há dois Yuthoks. A base teórica e prática da “sowa rigpa” está contida nos quatro tantras médicos, compilados por Yuthok Yönten Gönpo, o ancião (729-854 d.C.), e revistos por Yuthok Yönten Gönpo, o jovem (1126-1202). Ambos alcançaram o que chamamos de “corpo do arco-íris”, que é quando corpo, a energia e a mente se dissolveram na hora da morte no estado primordial dos cinco elementos. No século XII, Yuthok, o jovem, recebeu os ensinamentos de seu pai e de Khadroma Palden Tringva, a dakini da medicina da corrente gloriosa. Por meio de visões, ela permitiu que esse ensinamento secreto fosse transmitido somente a um discípulo mais próximo, Sumtöng Yeshe Zung, que, por sua vez, poderia transmiti-lo no futuro a vários médicos qualificados. A partir de então, esses ensinamentos ficaram conhecidos como “Yuthok Nyngthig”.
Qual a importância do Yuthok Nyingthig na vida moderna? Trata-se de uma tradição budista de cura especialmente para leigos e pessoas não monásticas, os chamados “chefes de família”, ou seja, pessoas que trabalham, constituíram uma família e têm diversas responsabilidades. É uma linhagem especial e única porque anda de mãos dadas com a “sowa rigpa”, cujo objetivo principal é curar tanto nossos aspectos externos (físicos) quanto internos (mentais). Podemos abordar a cura a partir dos aspectos físico, energético e mental, levando em consideração nossas condições individuais atuais para superar desafios e para que tenhamos uma vida mais saudável e feliz.
O que o senhor espera de sua primeira viagem ao Brasil? Estou muito animado, pois sempre achei que as tradições de cura espiritual profundamente arraigadas no Brasil e as formas de usar plantas medicinais têm semelhanças com o sistema de cura tibetano. Tenho muito interesse em aprender com a história e as tradições do Brasil, conectar nossas duas culturas e colaborar no sentido de adaptar o conhecimento ancestral à vida moderna para que possamos dar continuidade a essas linhagens sagradas e honrar a sabedoria de nossos ancestrais. Há também muitos alunos brasileiros que conheci apenas em nossos cursos online, então estou feliz por finalmente conhecê-los pessoalmente.
O senhor vai inaugurar e consagrar o primeiro templo a Yuthok, em Itaipava, no Rio de Janeiro. Qual é a importância desse espaço para os brasileiros? Vejo esse lugar como um campo intocado para plantar as sementes da medicina tibetana e da tradição terapêutica budista do yuthok nyingthig. Terras férteis são cruciais para o cultivo de sementes sadias e a produção de frutos bons e saudáveis. Portanto, vejo o local como uma peça importante para que no futuro possamos compartilhar com o Brasil essas tradições. Será um lugar estável e seguro onde poderemos compartilhar a sabedoria tibetana ancestral com os brasileiros modernos. Espero que se torne um local de intercâmbio cultural e encontro espiritual entre as duas culturas. Na medicina tibetana, os textos antigos falam sobre as cinco perfeições: o professor perfeito, os alunos perfeitos, os ensinamentos perfeitos, o momento perfeito e o lugar perfeito. Portanto, considero este lugar muito auspicioso. O templo se chamará “Yuthok Ling”, em homenagem ao pai da medicina tibetana, Yuthok Yönten Gönpo.
Estamos afastados de nossa essência? Eu diria que, na vida moderna, estamos nos distanciando de nossas raízes e ancestrais. Mas nunca conseguiremos nos distanciar da essência, que é nossa natureza búdica, nossa essência de beatitude. Não estamos distanciados ou perdidos, apenas temporariamente entorpecidos ou desconectados. É por isso que vejo o budismo como uma ciência interior: é uma forma de autoterapia e cura para ajudar essa reconexão com nossa essência inata, que está sempre dentro de nós.
AGENDA: O curso “Meditação como Medicação” (com tradução para o português) acontece no próximo dia 19, das 9h15 às 13h, e nos dias 20 e 21, das 9h30 às 12h30 e das 14h30 às 17h, na Mandala Yoga e Terapia, rua Chefe Pereira, 29, na Serra. Informações e inscrições: [email protected]
Tradução: Renata Guedes
Lançamentos
“Vapor dos Vapores: Dicionário de Pensares”, Nilton Bonder, editora Rocco, 304 páginas, R$ 69,90.
O autor distingue um “pensamento” de um “pensar” e sustenta a ideia de que o livro seja um repositório de pensares orgânicos, em um mundo cada vez mais invadido pela inteligência artificial.
“A Terra é Excepcional? A Busca por Vida no Cosmos”, Mario Livio e Jack Szostak, editora Record, 350 páginas, R$ 73,88.
Baseando-se em descobertas recentes, os autores explicam como os blocos fundamentais da vida – como o RNA, os aminoácidos e as células – poderiam ter surgido do caos primordial do planeta e discutem a busca por vida além da Terra.
“Orar e Colorir”, Grupo Editorial Edipro, 80 páginas, R$ 49,90.
Por meio de 30 agens bíblicas e ilustrações que homenageiam a tradição das iluminuras, presentes nos manuscritos cristãos, o livro estimula a conexão com o divino e propõe uma pausa para reflexões sobre a religiosidade.