No primeiro final de semana de estreia do live-action de "Lilo e Stitch" no cinema, uma sala na zona sul de São Paulo estava entupida de crianças com adereços do alienígena azul. Mas, por alguns segundos, durante os trailers, outro velho conhecido roubou a atenção.

 

 

"Banguela! Banguela!", exclamavam os pequenos, animados com a prévia do remake de "Como Treinar Seu Dragão". Há 15 anos, a animação da Dreamworks encantou pela relação de amizade entre um menino, Soluço, e seu réptil alado, o tal Banguela, assim apelidado por retrair suas presas quando está dócil. Agora, a nova versão acompanha a onda de live-actions e estreia nesta quinta-feira (12), num aceno para quem quer revisitar Berk, a vila de vikings hostis que aprendem que a violência não é a resposta para tudo.

"Eu acho que a Universal tomou uma decisão inteligente ao me chamar para retornar como diretor e roteirista, assim como o Gerard [Butler] para atuar", diz Dean DeBlois, em entrevista ao lado do ator que dublou Stoico, o pai do protagonista, na versão original. "Somos os guardiões dessa franquia. Nós a criamos, amamos e honramos os fãs ao longo dos anos", afirma o cineasta.

O filme com atores de carne e osso e monstrinhos de computação gráfica chega um mês após o remake de "Lilo e Stitch" —esta também uma criação de DeBlois ao lado de Chris Sanders, mas na Disney, e que já é o filme mais visto no Brasil neste ano, com mais de 5,7 milhões de espectadores. Agora, a dupla compete pelas bilheterias quase simultaneamente, em casas separadas.

"Como Treinar Seu Dragão" conta a história de um povo nórdico que tem como inimigos mortais os dragões, que incendeiam suas casas e devoram suas ovelhas. Tal qual o desenho, é durante uma batalha contra as tais pragas que o mirrado Soluço, agora interpretado por Mason Thames, apresenta a trama.


Desengonçado e alvo de zombaria dos outros moradores, ele revela que é filho do líder, Stoico, e já fica claro que ele não tem a mesma sede assassina dos compatriotas. O menino une seus conhecimentos como aprendiz do ferreiro e monta uma engenhoca que, naquela noite, captura um fúria da noite, uma das espécies de dragão mais perigosas.


Mas, ao se deparar com a fera abatida, o garoto se afeiçoa pela criatura e começa a cuidar dela em segredo, enquanto seu pai acredita que ele treina para se tornar um guerreiro como ele. "Todo mundo quer ter um pet, um animal fantástico que possa criar laços", afirma DeBlois.


A partir daí, Soluço começa uma vida dupla —no meio da floreta, trata do dragão e o ajuda a voar novamente; na frente dos colegas, usa os truques que aprende com Banguela para amansar outras espécies da vila, demonstrando aos outros que os monstrinhos não são tão letais assim.


Hoje aos 17, Thames tinha três anos quando o primeiro filme saiu e afirma que o protagonista é seu herói de infância —e que inclusive foi inspiração para uma fantasia de Dia das Bruxas. "O Soluço que o Jay [Baruchel] dublou é muito icônico. Então tinham muitos elementos que eu queria manter, mas também conversei com o Dean [DeBlois] para entendermos o que gostaríamos de trazer de diferente ou que não pôde ser explorado nos personagens da animação."


A nova versão do domador de dragões é menos sarcástica e mais tímida. "Foi um processo muito divertido explorar um lado mais sombrio e triste dele também", diz Thames. Outro fator que elenca como grande honraria é ter contracenado com Butler. "Estar em cena com o Stoico em carne e osso foi incrível. Ele traz uma energia incomparável para o set."


O papel já é velho conhecido para Butler, mas o que antes se resumia a uma sala de gravação agora envolveu horas com maquiadores para adquirir sua longa barba ruiva e um figurino que pesava 40 kg. "Eu precisei usá-lo por oito semanas, de manhã até de noite", diz Butler. "Para realizar uma cena de ação, era como se estivesse carregando uma mulher nos ombros."


Além dos obstáculos da caracterização, ele afirma que precisou calibrar o tom do personagem de modo que não se tornasse caricato. "No live-action é possível sentir mais todo o ressentimento, frustrações e constrangimentos. Mas o humor também, já que eu posso trazer ainda mais bobagens. Então definitivamente tem mais cor e eu pude dar mais de mim."
Para DeBlois, os relacionamentos puderam ser mais elaborados. "Essa história de pai e filho na qual paira uma grande tensão gera bastante identificação em muitas pessoas."


Quem também ganha novos contornos na narrativa é Astrid, a principal guerreira mirim da ilha e futuro par romântico de Soluço. Se antes ela parecia meramente uma garota bruta e marrenta, agora a atriz Nico Parker explicita a ambição da personagem em se tornar líder de Berk.

"Tem algo de estressante em não querer estragar a interpretação de um personagem que você tanto ira, mas houve espaço para novos elementos de atuação. Pudemos nos debruçar sobre as motivações por trás do comportamento da Astrid", afirma Parker.

A trilogia de "Como Treinar Seu Dragão" foi concluída em 2019 e, ao longo do caminho, ganhou curtas e séries spin-off, mas até então o universo parecia bem consolidado. Apesar de boa parte do filme parecer uma reprodução quadro a quadro da animação, inclusive com a já conhecida trilha sonora de John Powell conduzindo a narrativa, DeBlois defende que o longa trouxe maturidade para a trama e foi feito para um público mais amplo.

Seja filmando em IMAX nas paisagens da Irlanda do Norte ou no estúdio com animatrônicos, a intenção era tornar a experiência a mais imersiva possível. "É mais do que um remake, é uma versão reimaginada com mais profundidade e metodologia, mas é feito com respeito e amor por quem já ira os filmes", diz DeBlois.
A sequência do live-action já está confirmada e deve estrear em 2027.

COMO TREINAR O SEU DRAGÃO
- Quando Estreia nesta quinta (12) nos cinemas
- Classificação 10 anos
- Elenco Mason Thames, Nico Parker e Gerard Butler
- Produção Estados Unidos, 2025
- Direção Dean DeBlois